sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Sofá


Este post soará um tanto melancólico, com gosto daquelas comédias românticas bem açucaradas e com tom de um livro de Sidney Sheldon ...

Tudo por causa do sofá, que acaba de sair pela minha porta. Sabe, era apenas um sofá, quer dizer, deveria ser apenas um sofá que doado a uma pessoa maravilhosa que é meu braço direito aqui em casa há mais de 3 anos, segue para uma nova casa, um novo lar ... um marido e dois filhos ela tem ... certamente o melhor sofá que eles já tiveram na vida ... ela saiu daqui tão feliz com o sofá, agradeceu muitas, muitas vezes! .

E forte ele foi ... 9 anos aqui em casa com a gente!
Ele deveria ser apenas um sofá,

[Do ár. suffa(t), ‘esteira’; ‘coxim’, pelo turco sofa e pelo fr. sofa.]
Substantivo masculino.
Móvel, estofado ou não, ordinariamente com braços e encosto, onde podem sentar-se duas ou mais pessoas.

mas por algum motivo muito idiota, agora que o vi partir em cima de uma perua Kombi e subir a rua, ainda majestoso e bonito, senti uma melancolia tão grande ao fechar a porta de casa!

Aquele sofá, que deveria ser só um sofá, acompanhou o início do meu casamento, muitos filmes assistimos nele, em muitas sonecas que tiramos antes de sermos pais logo após o almoço assistindo à TV ele nos acolheu, depois assistiu à chegada da nossa filha e ainda recentemente suportou todas as cambalhotas e pulos dela ... teve um pouco de leite com chocolate derramado, afinal era nele que há 2 anos minha filha tomava o leite da manhã assistindo a seus desenhos favoritos. Quando chegou o novo sofá hoje, eu percebi que ela ficou meio desajeitada, tentava se acomodar no novo sofá pra ficar comfortável como no velho.

Teve até sangue de um dedo cortado; um pouco de xixi que um dia escapou numa troca de fraldas, respingos de suco de uva ... Era pra ser só um sofá mas como foi o objeto mais usado desta casa e por esta família, sua despedida teve um gostinho de boca seca ... afinal, assistiu também aos momentos difíceis que passamos por causa da minha depressão. Muitas lágrimas eu chorei naquele sofá, muita angustia e dúvida eu senti ... muitos amigos e familiares queridos eu recebi nele, muitas gargalhadas também foram entoadas em cima dele ... Foi o primeiro sofá que minha filha sentou, foi nele que se apoiou para andar a primeira vez ...

       E assim, no dia em que meu marido me diz pela manhã que um colega de trabalho de apenas 35 anos de idade morreu de infarto nesta madrugada, deixando esposa e duas filhas pequenas  eu estou sentindo a falta do meu sofá! Ele já estava acostumado com meu pesar!

E choramos juntos ao telefone, aquele choro contido e dolorido de quem sente medo da fragilidade da vida e da falta de sentido de algumas perdas ... aquele choro apertado e angustiado que soa “e se fosse meu marido?”.

        E eu sinto muito, muito mesmo, sinto profundamente que a correria, o estresse e a falta de amor e paz uns com os outros esteja matando tantos jovens pais de família.

E eu me sinto tão ridícula por ter ficado triste com a ida do meu sofá! Outro já está aqui em seu lugar. Mas pessoas não podem ser substituídas. Pais não podem ser substituídos ...e há muitas esposas e crianças no dia de hoje que estào chorando a morte dos seus maridos e pais.

Dedico este post e meus sentimentos mais nobres a todas estas mulheres e crianças.






10 comentários:

  1. putz...
    não é bem o sofá, são as emoções que ele evoca. Assim era a cama em que nasci e o sentimento que tive quando a mamãe jogou fora! Foi assim com os óculos e camisetas do Paulo... Depois de um tempo, tudo vira apenas objeto passado adiante. As emoções e os sentimentos ficam com a gente e podemos evocá-los de outra forma!
    Ah! eu estava junto quando voces compraram esse sofá, lembra?

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  2. Que tocante,Dri!!É incrível tua sensibilidade ao escrever...Consegui sentir cada pedacinho de emoção que você quis passar...

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  3. Leonardo JUsto via Facebook:

    Tia Dri, amei seu último post no Blog. Sinceramente ainda acredito que você vai escrever um livro um dia desses, afinal: é um dos objetivos da vida, hehehehehe

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  4. Linda crônica Adriana, de um sofá para todo o sentido que damos à vida.

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  5. Passei por isto, o dia em que fui trocar meu carro velho por um zerinho. Chorei, ao me despedir do então velho e lindo LOGUS(AH! se esse LOGUS falasse!)Ao ver minha cena, o vendedor soltou essa pérola:
    Hei moça!!! Vc tá chorando pelo carro velho? vc tá levando um novinho em folha!!!Sabe o que é pior , moça? Ontem , um casal chorava muito também, ele perdeu o emprego, ela está doente, e tiveram que deixar aqui o carro novinho , levando um super velhinho, pra ter troco de volta!A partir desse dia...chorar pra que?Nunca mais, tem gente em piores situações, sempre! bjos

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  6. Também serei solidário com esta mãe e suas filhas... muito triste mesmo! E quanto a vocês, agora terão que resgatar de outra forma os sentimentos que o antigo sofá trazia com certa facilidade. Lindo o seu texto, parabéns!

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  7. Oi Adriana!!!! Acho que todo mundo deveria ler seus posts!!!!
    Esses últimos dias foram muito triste mesmo, eu não consegui parar de pensar nas filhinhas deste nosso amigo, do paizão que ele era.
    Vejo tantas pessoas que se apegam a coisas materiais e nem sempre são porque esse "objetos" guardam lembranças, mas simplesmente pelo fato de serem materialistas! Todo mundo deveria ler seus posts...

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  8. Adriana, sempre adoro o que vc escreve!! detalhes pequenos que não reparamos no dia a dia da vida, mas que quando se vão..... fica um vazio só. Entendi perfeitamente o que quiz dizer em seu post, em seu sofá. Infelizmente o tempo não volta não é mesmo?? se voltasse, seríamos mais tolerantes uns com os outros e relaxariamos mais nos sofás da vida!!! um beijão!!

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  9. Denise MOnteiro via e-mail:

    Dri,

    Muito bonito. Me lembrei de muitos das minhas peças que eu tive que
    dar por uma razão ou outra. Eu procuro encarar isso como um exercício
    de desapego. A música diz ... All we are is dust in the wind. Nothing
    lasts forever but the earth and the sky. Tenho exercitado muito isso
    com a doença da minha mãe. Pessoa extremamente ativa intelectualmente
    que desenvolveu Alzheimer... É um sufoco... Lágrimas contidas quando
    ela olha pra mim e pergunta quem eu sou.... Me refugio em Deus, na
    minha fé na vida, na crença de que viemos a este mundo por um
    propósito maior... Sei que em algum lugar da cabeça dela ela sabe quem
    sou, só não está aparente agora e eu tenho que aprender a aceitar a
    nova relação que tenho hoje. O amor tem caminhos misteriosos e as
    escolhas que fazemos baseadas nessa premissa sempre dão certo....

    Love

    Denise

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  10. Fernanda Damiani Oliveira8 de abril de 2012 às 15:50

    caramba... que texto!

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